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07 May
07May


As mentiras da morte de Judas


Então Judas, que havia traído Jesus, vendo que este tinha sido condenado, sentiu remorso e devolveu as 30 moedas de prata aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: “Pequei quando traí sangue inocente.” Eles disseram: “O que nós temos a ver com isso? Isso é com você!” De modo que ele lançou as moedas de prata dentro do templo e saiu. Então foi se enforcar. Mas os principais sacerdotes pegaram as moedas de prata e disseram: “Não é permitido colocá-las no tesouro sagrado, porque são o preço de sangue.” Depois de consultarem uns aos outros, usaram o dinheiro para comprar o campo do oleiro, como lugar para sepultar estranhos. Por isso, aquele campo é chamado de Campo de Sangue até o dia de hoje.  Mateus 27:3-8


Naqueles dias, Pedro se levantou no meio dos irmãos (os presentes ali somavam cerca de 120 pessoas), e disse: “Homens, irmãos, era necessário que se cumprisse o que o espírito santo, por meio de Davi, disse profeticamente nas Escrituras a respeito de Judas, que se tornou guia dos que prenderam Jesus. Pois ele foi contado entre nós e foi escolhido para participar neste ministério. (Esse homem comprou um campo com o salário da injustiça e, ao cair de cabeça, seu corpo rebentou e todas as suas vísceras se derramaram. Todos os habitantes de Jerusalém ficaram sabendo disso, de modo que aquele campo foi chamado na língua deles de Acéldama, isto é, Campo de Sangue.). Atos 1:16-19

Acima vemos duas passagens conflitantes do Novo Testamento, ou seja, contraditórias. Entretanto, os crentes como não aceitam dizer que na Bíblia há contradições e erros, tentam conciliar ambas as narrativas dizendo que foram os sacerdotes, de fato, que compraram o campo, mas como o dinheiro havia sido de Judas, então indiretamente teria comprado o campo. Em Atos, Lucas teria parafraseado Mateus e disse de uma outra forma que os sacerdotes compraram o terreno. Em outras palavras, os crentes dizem que Lucas usou de uma metonímia, ou melhor, usou uma figura de linguagem. 

Vejam duas explicações dadas pelos crentes para essas passagens:

“O nome “Campo de Sangue”, em aramaico Acéldama, foi aplicado pelos judeus ao lote de terreno comprado com “o salário da injustiça” pago a Judas Iscariotes por ter traído Cristo Jesus. (Atos 1:18,19) Pelo menos desde o quarto século E.C. tem sido identificado com Hakk-ed-Dumm, do lado meridional do Vale de Hinom, na “Colina do Mau Conselho”, que é um terreno plano a pouca distância colina acima. Conforme salientam as Notas de Barnes Sobre o Novo Testamento (em inglês), a declaração de Atos 1:18, de que Judas “comprou um campo”, não significa que ele fizesse o contrato e o pagamento, mas, antes, que ele proveu os meios ou foi a causa da compra do campo. O registro de Mateus 27:3-10 mostra que os sacerdotes usaram as trinta moedas de prata lançadas no templo por Judas para fazer a compra, e que este “Campo de Sangue” havia sido antes disso o campo dum oleiro, sendo comprado por eles “para enterrar os estranhos”. O local sugerido tem sido usado como cemitério desde os primeiros séculos. “  — Tirado de Ajuda ao Entendimento da Bíblia, em inglês, p. 48, das Testemunhas de jeová

“Como Judas pode se enforcar e “precipitar-se” de modo que sua barriga se abra e seus intestinos se espalhem pelo chão? Como conciliar essas diferentes narrativas? Talvez Judas tenha se enforcado, a corda se rompeu e ele caiu no chão e se partiu ao meio. Ou talvez ele tenha tentado se enforcar e, como não funcionou, então ele subiu em um lugar alto e saltou sobre o campo abaixo.” -Sites diversos

As explicações dos crentes, aparentemente, são muito boas. E conseguem convencer muitos de dentro de suas próprias fileiras. Porém, só convencem esses!

Analisemos as passagens: Mateus nos fala que foram os sacerdotes que haviam comprado um terreno que passou a ser chamado de campo de sangue em virtude de ter sido comprado com dinheiro usado para trair Jesus e consequentemente derramar seu sangue. Porém, em Atos, vemos um relato totalmente novo e diferente do que é contado por Mateus, Lucas nos diz que o campo de sangue recebera esse nome não por causa de ter sido comprado com moedas oriundas de um assassinato, mas sim, porque nele, Judas havia derramado seu próprio sangue, quando teria caído de cabeça e seu corpo se despedaçado, sabendo de que aquele campo foi onde Judas derramou seu sangue ao cair de cabeça, o povo de Jerusalém passou a chamar aquele lugar de campo de sangue.

Percebam mais esse detalhe, em Mateus o campo receberia esse nome porque teria sido comprado com moedas sujas de sangue, ou seja, o preço daquele campo, na realidade, foi ao custo de uma vida, no caso a de Jesus, enquanto no relato de Lucas o campo recebeu o nome “campo de sangue” não por causa do sangue de Jesus, mas pelo do próprio Judas, que teria morrido ali e tido seu sangue derramado e vísceras expostas. Além de que, em Atos, o comprador do campo do oleiro foi Judas e não os sacerdotes. Os motivos pelos quais o campo recebera aquele nome, portanto, são diferentes em cada um dos relatos. E isso, os torna, sim, contraditórios.

E mais, Lucas nos informa que Judas morreu naquele campo, só que não tem sentido algum, pois Judas jogou as moedas dentro do templo e saiu para se suicidar, assim nos diz Mateus. Logo, o suicídio de Judas ocorre muito tempo antes de os sacerdotes comprar aquele campo. 

Na narrativa de Atos, não há menção alguma ou mesmo indícios de que ali se tratou de um suicídio. 

Mesmo que admitamos que Lucas queria dizer que Judas havia se jogado do alto de um morro ou precipício, ou que a corda na qual estava supostamente pendurado se rompera, os relatos não se combinam. 

Pelo texto de Mateus, percebemos que o ato de trair fora realizado de forma secreta entre Judas e os sacerdotes, portanto, é uma mentira a afirmação desse evangelista, quando diz que o povo de Jerusalém passou a chamar aquele lugar comprado pelos sacerdotes de campo de sangue, já que ninguém sabia que o campo teria sido comprado com o dinheiro rejeitado por Judas.

Poderiam alguns dizer, mas Jesus disse aos discípulos que havia um traidor entre eles e que as escrituras também apontavam as trintas moedas de prata na profecia de Jeremias e/ ou Zacarias.

Realmente, há essas duas situações que podem ser levantadas, entretanto, isso não tira as contradições nos textos de Mateus e de Lucas, mas justamente o contrário é que acontece.

Primeiramente, se olharmos a profecia mencionada por Mateus, veremos mais ainda o quanto este escritor é um charlatão, mentiroso. Seu evangelho está repleto de supostas profecias. Todas  foram aplicadas na vida de Jesus para parecer que ele era o Messias. 

Mateus menciona Jeremias, mas a menção de 30 moedas não ocorre no livro desse profeta, mas em Zacarias 11:12,13. Mateus menciona as 30 moedas faladas por Zacarias e as relacionam ao que é dito por  Jeremias 32.

Mateus inventou essa profecia. Zacarias fala, na verdade, de um mau presságio contra o Líbano, onde os filhos de Judá se encontram, não tem nada que ver com qualquer traição de alguém que seria vendido por 30 moedas. Já Jeremias, embora fale de 17 siclos de prata, estas também não tem nada que ver com traição. Jeremias também está a se referir a uma profecia que envolvia o rei de Babilônia. Em ambos os textos, quer no de Jeremias, quer no de Zacarias, não existem a figura de algum campo ou terreno. Jeremias ao mencionar as 30 moedas, deixa claro que elas seriam o preço pelo qual o deus de Israel teria sido avaliado pelo seu povo Israel, quer dizer, os judeus menosprezaram seu deus por nada!

Mateus quando menciona supostas profecias do velho testamento sempre as desconfigura e as aplica de forma descontextualizada. 

São os crentes que, na tentativa de conciliar os textos, colocam, na passagem de Lucas, a estória de suicídio. O que é relatado, na verdade, por Lucas é um possível acidente ocorrido com o traidor, Judas.

Os sacerdotes não compraram o campo logo que Judas entregou-lhes as moedas de prata, a preocupação deles, naquele momento,  era a condenação de Jesus e não comprar um campo para se livrar das moedas que não poderiam ficar no tesouro do templo, isso poderia ficar facilmente para outro momento.

Lucas diz que Judas morreu naquele campo, mas isso é um absurdo, pois como já dito, o campo só foi comprado muito tempo depois de seu suicídio registrado por Mateus pelos sacerdotes. Judas não ficou esperando que os sacerdotes comprassem um campo para só depois entrar nele e assim se suicidar. 

Por mais que se tente ajustar os textos um ao outro, mais contraditórios ficam.

Mas o que poderia ter levado escritores cujos escritos supostamente inspirados por uma divindade cometerem tamanha contradição?

Simplesmente, porque esses escritores nunca foram inspirados por nenhuma divindade, aquilo que escreviam, se é que podemos dizer que escreveram de fato alguma coisa, (pelos menos, os apóstolos, não), tinha como fonte a mente humana, a mesma que criou a ideia de deus.

A discrepância entre os relatos bíblicos está no fato de que muitos dos escritores nunca se conheceram. Eram todos de diferentes lugares e épocas, suas estórias teriam sido escritas por ouvir dizer. Nunca viram nada daquilo que dizem ter visto, não foram testemunhas oculares de nada daquilo que escreveram. 

Ainda pesa o fato de que os escritores, quando transcreveram as estórias que ouviram dizer, nunca imaginaram que esses seus escritos fossem, algum dia, reunidos em um único compêndio, ou num único livro.

Eram muitas as estórias orais, então ficava difícil separar o que poderia ser verdade ou invenção. Se é que os que as escreveram se preocuparam com isso.

A Igreja primitiva formada por cristãos, que resolveu reunir esses escritos num livro que hoje chamamos de Bíblia e pouco se preocupou se esses relatos eram ou não contraditórios. Ademais, quem é que sabia ler naqueles tempos? 


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